sexta-feira, 3 de julho de 2009

Uma vida por trás das músicas


Passado o choque e a tristeza inicial do mundo, que perdeu uma pessoa a qual pode ser chamada de gênio, revolucionário e inigualável, as pessoas começam agora a relembrar os fatos marcantes, as músicas e a história de um dos personagens, se não for o único, mais famoso do mundo. Michael Jackson. Este nome está repetidamente trazendo dor e vazio para alguns que lamentam a sua perda. Para os verdadeiros fãs, esse sentimento continuará ainda por muito tempo e, talvez, amenizará depois de longas e incansáveis semanas. O “rei do pop” não está mais entre nós, isso é fato, é verdade e é notícia em qualquer veículo de comunicação do mundo. Alguns tentam derrubá-lo mesmo depois de sua morte, mas, este número não chega nem a 1% da quantidade de pessoas que lamentam a perda. Este mundo que chora, mesmo que seja internamente sem derramar uma lágrima, está devastado em seu interior e prefere, como a grande maioria, lembrar dos momentos de glória e reinado de Michael.

Ao andar nas ruas e assistir o noticiário, pessoas de todas as formas, jeitos e etnias juntos e misturados (como o “rei” adorava ver), choram incansavelmente. Mas, engana-se quem pensa que somente os cidadãos à beira dos 50 anos que dançaram ao som dos LPs de Michael nos anos 70, 80 e 90 estão sofrendo. Jovens, adolescentes e até crianças que mal conhecem a história de Michael Jackson estão também no barco dessa angústia de querer, a cada minuto, saber novas notícias sobre a trágica morte do cantor. Muitos dos jovens e crianças que hoje estão chorando acostumaram-se a ouvir e a idolatrar as músicas e os passos mágicos de Jackson através dos pais, tios e avós. Ele era mágico, ele era espetacular, ele era o Michael Jackson. Um talento astronômico, um carisma sem igual e um charme que deixava não só as mulheres, mas também os homens, boquiabertos ao vê-lo dançar e deslizar no palco, deixando nas pessoas a sensação de estarem assistindo a um show de ilusionismo. Ele era encantador. O dia 25 de junho nunca mais vai ser o mesmo, será um dia lembrado a cada ano, a cada década e assim sucessivamente.

Embora o sentimento de pena seja um dos piores que se pode ter por uma pessoa, muitos dos fãs que realmente conheciam a sua história de vida estão passando por esta sensação neste momento. Uma vida marcada por altos e baixos, assim foi a trajetória de Michael. Mesmo com bilhões de dólares em sua conta bancária e amado no mundo inteiro, o rei parecia não ser feliz. As surras que levava do pai enquanto criança, as brigas com os irmãos, as acusações de pedofilia, a obsessão pela infantilidade e pelo mundo dos brinquedos, as plásticas e os filhos gerados artificialmente. Este era o lado obscuro de Michael, o qual ninguém até hoje conseguiu entender corretamente.

Empenhado em corrigir a desigualdade humana, o rei sempre estimulou a ideia de proteger as crianças, promover a paz e a igualdade racial, embora alguns achem que ele era racista com a sua própria origem. Em todas suas músicas ele expressava suas vontades momentâneas, fossem elas a de dançar, amar, ajudar ou de se odiar. As traduções de suas músicas mostram como realmente foi a vida do astro de acordo com suas glórias e derrotas em cada década. Em 1972, Michael ainda sentia a explosão da carreira solo. Foi quando lançou a música Ben, que revelava as ideias de uma criança cujo amigo era um rato com quem conversava secretamente sem que as pessoas soubessem. Don't Stop Til You Get Enough estourou nas baladas em 1979. Todos queriam dançar nas pistas de dança aos passos do cantor e namorar ao som de sua música que dizia “me toque e eu me sinto pegando fogo. Não há nada como o desejo do amor. Eu estou derretendo como cera quente de vela”. No início dos anos 80, as músicas realmente revelaram que Michael seria um rei. O lançamento do álbum Thriller, o mais vendido no mundo inteiro com mais de 100 milhões de cópias, revelava um cantor dançante, alegre, apaixonado e contra a discriminação racial. Essa, sem dúvida, foi a melhor fase de Michael Jackson. Bilie Jean, uma de suas mais dançantes canções, trazia a reprodução de um fato real quando uma mulher acusou-o de ser o pai de seu filho. Michael nunca negou o envolvimento com a moça, mas, convenceu as autoridades de que o filho realmente não era dele, tratava-se somente de uma fã apaixonada. “Ela veio e parou bem ao meu lado. Então o suave cheiro de perfume. Isso aconteceu logo que a conheci. Ela me chamou pro seu quarto. Billie Jean não é minha amante. É só uma ‘gata’ que diz que sou o único. Mas o filho não é meu”.

A música Thriller fala por si só, traz a letra de uma noite sombria onde uma menina é perseguida por criaturas malignas. As pessoas dançam até hoje a coreografia do videoclipe que possui 14 minutos. A década de 90 não deixou de ser o ápice do cantor. Em Will You be There e You Are Not Alone, Michael revela uma pessoa mais calma e apaixona, principalmente por Lisa Marie Presley, com quem foi casado por dois anos e protagonizou um sensual videoclipe. Nesta época, o astro também promoveu a paz e a igualdade social e racial. Heal The World traz um trecho que diz “Nós queremos fazer deste um lugar melhor para nossos filhos e para os filhos de nossos filhos”. They Don't Care About Us veio como um estouro, principalmente para os brasileiros, já que o videoclipe foi gravado no Brasil com a banda Olodum. A música traz a indignação de Michael com a violência e injustiça.

Muito brilho e glória nesta década. Mas a fama de Michael começou a dar lugar às acusações de abusos sexuais. A partir deste momento, o rei estremeceu. Conforme os sites de notícias americanos, sem conseguir acreditar nas acusações, o cantor ficou recluso em sua mansão em Neverland, sem contato com imprensa ou fãs. Ele recebia somente a família e os amigos mais próximos. Segundo fontes próximas ao cantor, esses fatos fizeram com que ele entrasse em uma profunda depressão. Michael já não conseguia mais fazer sucesso como antes e pensava que todos estavam deixando de amá-lo, pelo menos era isso que expressava em suas músicas, como na canção Morphine, composta no auge máximo de sua depressão. A música fala escancaradamente sobre o remédio Demerol, feito a base de morfina, que o cantor usava como analgésico e relaxante. A tradução é chocante e traz frases do tipo “Eles chegaram, chutaram sua cara, você odeia sua raça”, “Sempre querendo agradar o papai. Tome jeito e deixe o papai em paz”, “Todos odeiam você. Isso não vai te ferir. Antes que eu injete. Feche seus olhos e conte até dez. Morfina”.

Chega a doer só de imaginar que alguém tão espetacular como Michael chegou a tal ponto. Durante décadas, as músicas revelavam um cantor ilustre em cima do palco e depressivo por trás dele. Infelizmente, uma das vozes mais belas, suaves e sensuais se calou. Foi repentino, sabemos, mas o sucesso que ele fez ao longo dos anos deixou obras primas compactadas em forma de discos. Se ele namorou mulheres ou homens, se ele sentia-se uma criança ou ficava bem ao estar próximo delas, se realmente era infeliz, se é verídica a história de que ele tenha apanhado quando pequeno, ninguém sabe. O que todos compreendem é que o astro foi uma estrela muito brilhante e misteriosa. Ele merecia, no mínimo, realizar a This is it, sua grande turnê de retorno, ou despedida. Mesmo não estando fisicamente entre nós, ele permanecerá para sempre na memória dos fãs e admiradores. Michael Jackson, não morreu. Pode parecer jargão, mas, quem morreu foi a pessoa, o nome viverá sempre entre nós e a cada vez que ele for pronunciado por nossos pais, filhos e netos, renascerá as lembranças de um artista carismático que criou músicas com ritmos dançantes e coreografias que jamais serão copiadas, poderão ser parecidas, mas nunca iguais. Todas essas lembranças do “rei do pop” que virão ao longo dos anos nos farão acreditar que a estrela que se chamava Michael Jackson não morreu e nunca morrerá, ela só mudou de lugar.

Um fotógrafo, dois olhares

Ricardo Giusti

Apaixonado pelo jornalismo e, em particular, pela linguagem da fotografia. É assim que João Ricardo Testa de Giusti se define. Encantado com o mundo da comunicação, Giusti estava sempre presente nas redações dos jornais em que seu pai, o jornalista Benito Giusti, trabalhava.

A forte influência do pai, que vivia rodeado de jornalistas, e as visitas constantes que fazia com ele ao Bar da ARI (Associação Riograndense de Imprensa) fizeram com que Giusti escolhesse a mesma profissão. Nascido em Porto Alegre, no dia 20 de junho de 1961, lembra de um presente muito marcante na sua adolescência: a primeira câmera que pegou nas mãos, uma kodak instamatic que era da família. “Ela tinha pequenos cubos de flashes, que eu queimei fazendo testes escondidos. Foi minha primeira experiência com uma câmera.”


Em 1980, ainda “em cima do muro”, resolveu prestar vestibular para Educação Física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e para Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC). Acabou passando nas duas provas e começou a cursar as duas faculdades. Após um ano, resolveu continuar só com o jornalismo, já que esta era a sua grande paixão. A profissão que escolheu exigiu muito tempo e dedicação, por isso, somente em 2006 Giusti se formou.


Carreiras paralelas
Quando cursava o segundo semestre de Jornalismo, conseguiu um estágio na prefeitura de Porto Alegre, no Departamento Municipal de Habitação (Demhab). A segunda experiência com uma máquina fotográfica veio logo. Com uma Praktica MTL 3, uma câmera mais atualizada do que a última que havia usado, ele fotografava paisagens, pôr-do-sol e as namoradas.


Com o domínio das técnicas na ponta dos dedos, Giusti encontrou no Demhab uma forma de seguir uma carreira que se expressava com as imagens e não com as palavras. Em 1982, na ausência do fotografo titular do departamento, ele fazia a cobertura fotográfica das pautas do dia. A fotografia começou a encantar o estagiário e foi a partir daí que ele começou a direcionar o seu exercício profissional para o lado da reportagem fotográfica.


A cada dia, dominava cada vez mais as técnicas de fotografar. Fez concurso público e passou de estagiário a funcionário da Prefeitura. Logo, começou a trabalhar como fotógrafo no Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). Depois, foi requisitado para fotografar na Coordenação de Comunicação Social, departamento que acompanha as pautas do prefeito – e é ali, junto do principal gabinete da prefeitura, que Giusti trabalha até hoje: passa suas manhãs acompanhando as pautas do prefeito José Fogaça.


Em 1986, o empresário Renato Ribeiro comprou a Empresa Jornalística Caldas Júnior, e o pai de Giusti foi convidado para ser um dos secretários de redação do jornal Correio do Povo. Foi então que o profissional viu a oportunidade de trabalhar com fotografia no jornalismo diário. Pediu ao pai uma vaga no jornal, mesmo que fosse para cobrir as pautas da madrugada. O pedido foi aceito e ele começou a trabalhar no turno da noite. “Antes de entrar no jornal, eu já queria contribuir com fotos. Andava sempre com uma câmera a tiracolo. Acho que isso chateava um pouco os fotógrafos profissionais que estavam trabalhando.” Em 1995, Giusti deixou o turno da noite para passar a trabalhar à tarde no Correio do Povo.


Ao longo dos 28 anos de carreira, Giusti já viu passar muitos colegas, amigos e políticos na prefeitura - mas ele continua. No jornal, passou por diferentes momentos, pois, segundo ele, não existe uma rotina no jornalismo diário. “Cada dia é um dia diferente.” Com anos de trabalho dedicados ao jornal, há duas semanas foi convidado para ser chefe do Departamento de Fotografia do Correio do Povo, cargo vago com a aposentadoria do titular.


Aceitou, e agora tem o desafio de fazer um bom trabalho no novo cargo e dar continuidade às coisas boas da redação, além de ouvir sugestões dos profissionais que a integram. Ele afirma que não pensa em ficar “trancado” dentro do departamento, sempre que possível, ele quer estar na rua fotografando. Em um pouco mais de 15 anos, completa o seu tempo de trabalho na prefeitura e no jornal. Então, sua meta é se aposentar para curtir os momentos de lazer.


Os riscos e as glórias
Na infância, Giusti esteve sempre presente nos bons momentos da profissão, por isso, idolatrava o jornalismo. Mais tarde é que veio a descobrir que a reportagem fotográfica lhe traria, além de glórias, momentos de tensão, perigo e grandes desafios. “Temos que pegar chuva, frio e pisamos no barro também. Já fiz cobertura de chacinas, onde temos que ver muito sangue e pessoas mortas, entre elas crianças.” O termo DCP, criado por ele mesmo e que significa dedicação, competência e perfeição, sempre o acompanhou e fez com que ele alcançasse seus objetivos.

Um dos momentos mais difíceis e fatídicos que Giusti passou foi em 1994, quando teve que fazer a cobertura de uma rebelião no Presídio Central. Na noite do motim, os fugitivos foram liderados pelo assaltante Dilonei Melara, que roubou um táxi e invadiu o Hotel Plaza São Rafael com o carro. Tempos depois, na mesma penitenciária, passou por momentos de tiroteio entre policiais e bandidos. “Essas são as fases difíceis da carreira, você ter que trabalhar no meio do perigo.”

Grandes coberturas esportivas também já passaram pelas mãos de Giusti que sempre acompanhou os times da dupla Grenal em campeonatos importantes. Apesar de o time do coração ser o Grêmio, foi com o Internacional que o profissional afirma ter feito grandes coberturas. Com o clube, visitou outros países como México e Japão, nos campeonatos Taça Libertadores da América e Mundial Interclubes. “As coberturas que mais tu fazes viagens são as esportivas.”


Em uma das coberturas esportivas, durante um jogo entre Grêmio e Curitiba, Giusti fez uma sequência de imagens de uma briga entre um médico da delegação gremista e o árbitro da partida. As imagens da confusão renderam-lhe o primeiro lugar no Prêmio ARI de Jornalismo, em 1999. Depois deste, vieram mais três, desta vez no segundo lugar, com imagens feitas para as editorias de esporte e polícia. Outra premiação que o fotógrafo lembra com muito carinho, pois, foi o primeiro que conquistou, é o Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo. Giusti foi contemplado graças a uma imagem, feita em 1987, de um mendigo tomando água na sarjeta. Um dos últimos recebidos por ele foi o Prêmio Press, na categoria Reportagem Fotográfica, no ano passado.


Uma das situações mais curiosas da qual lembra também está ligada ao esporte. Após um jogo no estádio Beira-Rio, foi fazer a cobertura no portão oito, local que os torcedores utilizavam para protestar quando o time não ia bem. Quando estava fotografando, levou um chute de um policial e um colega que trabalhava na Zero Hora fotografou o momento exato da agressão. No outro dia, a foto estampava as capas da ZH com a manchete “Polícia agride imprensa”. “Os policias não gostam muito dos colegas da imprensa.”


Em 2005, fez um curso que ensinava como os jornalistas deviam proceder em coberturas de guerra. As aulas foram ministradas na sede do Exército Argentino, em Buenos Aires, durante uma semana. Com os militares argentinos, Giusti aprendeu táticas de como proceder em áreas de confronto.


Apesar das coberturas perigosas e dos imprevistos da profissão, ele se sente uma pessoa realizada, mas, não satisfeita. “Quando a gente se sente satisfeito, já pode pendurar as chuteiras. Eu estou sempre querendo fazer uma nova cobertura.”


Curtir a família
Atualmente, Giusti dedica seus dias de folga à filha Giovanna, de um ano. Em sua sala, no jornal Correio do Povo, nota-se que o fotógrafo aderiu a mais uma cobertura fotográfica: a dos momentos com a filha. Fotos bem coloridas, com um pai sorridente e sua “paixão” no colo estampam as portas do armário onde são guardadas as máquinas fotográficas. “Agora ela está começando a falar papai. É a coisa mais maravilhosa que existe”, afirma o profissional que se considera um pai-avô, devido aos 47 anos.


Gosta de ir ao cinema, viajar para a cidade de Canela ou para o litoral, mas, atualmente tem preferido os momentos de lazer ao lado da filha, do enteado Iuri e da esposa, a assistente social Cristine, sua companheira há 12 anos. “Tenho uma churrasqueira em casa e adoro ficar assando um ‘churrasquinho’ no fim de semana para a família.”


Motoqueiro assumido, Giusti possui uma motocicleta estilo Harley-Davidson. Antes, as viagens à praia com a esposa a bordo da motocicleta eram constantes, mas, a chegada do bebê na família diminuiu os passeios. No carro ou em casa, o fotógrafo gosta de ouvir um bom rock’n roll do estilo de Bob Dylan, Rolling Stones, Led Zeppelin e The Purple. ”Confesso que agora meu carro possui até CD de músicas infantis para acalmar a Giovanna.”


Motivado pela sua profissão e pela “vida maravilhosa”, repleta de saúde, que leva ao lado da família, o fotógrafo só pensa em ser feliz. Se considera um homem cheio de esperança, que gosta de muita alegria e está sempre com pensamentos positivos. Ele acredita que tudo pode ser feito de uma maneira melhor, basta que haja boa vontade e diálogo.

O designer Hélio

Hélio Nardi

Muitas pessoas podem achar a curiosidade um defeito. Mas, para Hélio Antônio Nardi Filho ela é, com certeza, uma qualidade. Foi graças a ela que o designer sempre desejou saber a origem de tudo que lhe rodeava. Os funcionários da Companhia Carris Porto-Alegrense, por exemplo, conheciam-no de longe, pois, com apenas oito anos, Hélio não saía do local onde os bondes de Porto Alegre eram consertados, uma das grandes lembranças que tem da sua infância na Capital, onde nasceu em 23 de novembro de 1950.


Também lembra com carinho de quando morava no bairro Tristeza e podia desfrutar das brincadeiras no rio Guaíba com os primos. A câmara velha de um pneu de caminhão se transformava em uma grande boia que levava os amigos para um local onde a água, na época cristalina, alcançava o pescoço.


Hélio é formado apenas pelo Ensino Médio do Colégio Rosário. Mas, esse fato não fez com que ficasse circunscrito ao mundo dos adolescentes. Com apenas 15 anos já gostava de acompanhar o trabalho dos adultos durante as gravações na TV Gaúcha, a atual RBS TV. Uma característica em especial chamava-lhe a atenção: a arte dos estúdios de gravação. Ficava lisonjeado por poder presenciar a pintura das paredes dos estúdios, o desenho feito pelos diretores de arte e, além disso, ver tudo novamente pela televisão quando chegasse à sua casa.


A curiosidade e o talento sempre fizeram com que Hélio alcançasse seus objetivos. Curso de designer, desenho ou informática, por exemplo, ele nunca fez. Tudo o que ele sabe é creditado ao fato de querer sempre descobrir como as coisas são feitas.


Jovem aprendiz
Com uma “boa mão” para o desenho, tentou cursar Arquitetura, mas não conseguiu passar no vestibular. Como era fascinado pela propaganda e pelas artes gráficas, resolveu unir as duas paixões e começar a trabalhar mesmo sem uma graduação. Em 1964, recebeu o convite para desenhar os seus traços “bem definidos” nos cartazes do Palácio dos Enfeites, uma antiga loja de decorações para festas. Mas, as visitas constantes à TV Gaúcha lhe renderam um estágio na emissora. Sem pensar, aceitou o convite. “Era um bom estágio, a diferença é que o estagiário pagava tudo do próprio bolso. Trabalhávamos para adquirir experiência, salário não existia.”


Em 1969, surgia a TV Difusora. Após um ano de sua inauguração, Hélio foi levado por um amigo para estruturar todo o departamento de arte da nova emissora. O setor foi denominado como “Arte 10” e servia de local para serem criados os anúncios da TV e os desenhos para os estúdios de gravação. “Nós montamos os primeiros slides coloridos para televisão”, relembra.


Atualmente com 58 anos, bigode e cabelos grisalhos, Hélio se surpreende ao lembrar que, em 1972, fez parte de um grande marco da história: a TV Difusora fez a primeira transmissão a cores no Brasil. A Festa da Uva, realizada em Caxias do Sul, foi toda transmitida pelo então novo sistema. “Passei por grandes experiências e mudanças. Trabalhei em uma época que tínhamos que colar letra a letra para construir um anúncio de publicidade”, explica, ao recordar o modelo conhecido como letraset, letras autoadesivas de fácil aplicação.


Devido às grandes práticas que teve e ao fato de ter começado a trabalhar ainda muito jovem, ele é conhecido pelos amigos por “jurássico”. Ele mesmo conta que quando começa a falar em todos os locais por quais já passou e pessoas que conheceu, tem a sensação de estar com quase 100 anos.


Da TV para as agências
O designer afirma que o seu conhecimento da tipologia e o bom desempenho no manejo de um pincel fizeram com que os traços de seus anúncios ficassem inigualáveis. Outras qualidades que havia desenvolvido era a agilidade e a rapidez devido ao pouco tempo que tinha para criar os anúncios para televisão. Com estes atributos, em 1973, foi convidado para trabalhar na Mercur Publicidade. Na agência, desenvolvia anúncios voltados para o varejo.


Nos primeiros dias de trabalho da Mercur, Hélio foi enviado a São Paulo para fazer um treinamento com os profissionais paulistas, o que, para ele, foi um enorme aprendizado, pois que acredita que lá as pessoas têm um nível cultural mais avançado: “Lá as crianças aprendem a analisar as pinturas de Picasso desde bem pequenos”.


Ainda na Mercur, os anúncios começaram a ser desenvolvidos em dupla. Por este motivo, começou a atuar na companhia do escritor Barbosa Lessa e depois juntamente com João Alberto Soares, com quem trabalhou por quase 10 anos. “Éramos o Batman e Robin da propaganda. Meus maiores anúncios e prêmios foram conquistados com ele.”


Após dois anos na Mercur, foi convidado para trabalhar na Marca Propaganda, junto de sua dupla inseparável. Na agência, os dois aprenderam a lidar com as mais variadas áreas atendendo a clientes de diferentes segmentos. Um ano depois, João Alberto foi chamado para trabalhar na agência Ampla, que era uma espécie de “house agency”, isto é, atuava somente para uma empresa dentro da própria empresa, neste caso, o Supermercado Real. Como a dupla já possuía até pôsteres destacando que seus trabalhos angariavam prêmios, a Ampla contratou os dois.
O resultado deles era tão positivo que quando a agência Escala conquistou a conta publicitária da concessionária Gaúcha Car, pertencente ao grupo Kunzler, os diretores do próprio grupo exigiram que a conta fosse atendida por “Beto e Hélio”. Então, em 1977, migraram para Escala, pela qual receberam muitos prêmios e foram os primeiros profissionais gaúchos a serem indicados a participar do livro do Clube de Criação de São Paulo, que apresenta o melhor da publicidade desenvolvida a cada ano.


Novos rumos na carreira
Contente com o trabalho da Escala, mas, necessitando dar novos ares a sua carreira, o designer resolveu abrir seu próprio espaço para trabalhar. Em 1979, saiu da agência e abriu o “Grupo de Arte”, onde atuava como freelancer. Aos poucos, a venda de criação para as agências de propaganda começou a crescer e a empresa se destacava a cada dia no mercado gaúcho. Mas, logo aconteceu algo que Hélio não queria: iniciou-se uma competição com outras agências. Por isso, em 1987, resolveu encerrar as atividades da sua empresa.


Com experiência na área e com mais de 200 prêmios conquistados, Hélio estava pronto para entrar no mercado novamente. No mesmo ano, foi convidado pelo amigo Sérgio Gonzalez para fazer parte da equipe gaúcha da MPM Propaganda, que na época já se destacava como uma das maiores no país. Nesta agência, começou a criar campanhas para empresas nacionais, logo obteve destaque e passou a ser supervisor de criação. Aqui, a dupla “Beto e Hélio” já trabalhava separada.


Após cinco anos, a MPM foi vendida para o Grupo Lintas. Segundo o designer, sua saída da empresa foi motivada pela mudança de rumo dos objetivos da agência e dos trabalhos que já eram desempenhados.


Administrador do próprio dia
Há 16 anos, Hélio trabalha no estúdio HN Design, montado em sua casa, onde desenvolve projetos com design gráfico. Trabalhou na confecção de muitos álbuns culturais, entre eles o álbum “Solar dos Câmara”, “Uma aventura no Sul do Brasil”, “Mário - Álbum biográfico”, de Mário Quintana, "Missões Jesuíticas" e “O Rio Grande de Erico Verissimo”.


Para o futuro ele planeja lançar uma exposição chamada “35 anos de Hélio Nardi”, onde colocará todos os anúncios que desenvolveu desde o início de sua carreira. Um dos objetivos da mostra é apresentar aos jovens todas as ferramentas que eram utilizadas para desenvolver os desenhos . “De que adianta tu guardares só para ti. O importante é repassar o teu conhecimento para as pessoas que estão começando”, acredita.


Ao lado da esposa, a bibliotecária aposentada Helena Bergmann Nardi, Hélio enfrenta uma rotina bem diferente daquela agitada que levava anos atrás. Agora, administra seu horário: trabalha às vezes à noite, em alguns dias pela manhã, quando não quer não trabalha, quando está com sono dorme até mais tarde, quando não, levanta cedo. “É um privilégio fazer o meu horário, mas, cuido sempre o prazo dos clientes. Nunca atraso um dia.”


O casal está junto há 35 anos e possui dois filhos, Anamaria, 33, e Hélio, 31. Durante os finais de semana a família costuma se reunir na casa que o designer possui na cidade de Canela. Nos dias mais quentes, eles preferem mudar o roteiro e viajar para o litoral. Quando não está envolvido em algum trabalho costuma cozinhar. Gosta de sair de casa sem receita, ir ao supermercado e escolher ingredientes para preparar uma boa comida, mas, assegura, sua especialidade é risoto.
Para ele cada dia tem que ser vivido como se fosse o primeiro, o único e o último da vida. Hélio se considera uma pessoa que adora aproveitar os momentos ao lado dos amigos, da família e, também, de estar junto da natureza, seja ela praia ou serra. Sua trajetória trouxe-lhe “experiências inesquecíveis” e uma das ideias que ele leva sempre consigo é passar aos jovens tudo o que aprendeu. “O que sei eu ensino, o que não sei, aprendo. Estamos sempre aprendendo com a vida.”

Espírito viajante

Clóvis Heberle

Sem restrições para viajar e conhecer o mundo. Assim, exercitando o gosto por aventuras que alimenta desde quando era jovem, Clóvis Heberle se enche de orgulho, e seus olhos chegam até a brilhar quando fala nos lugares que teve o “prazer de conhecer”. Formado em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em 1976, ele tinha o sonho de ser diplomata. Mas, a inspiração do avô paterno Theobaldo Weiler, que escrevia, em alemão, para o Jornal do Dia, pertencente à igreja católica, fez com que ele optasse pelo jornalismo.


Da infância, lembra da pescaria com os primos e dos banhos de riacho. Nascido na cidade de Três Passos, no dia 2 de fevereiro de 1950, Clóvis veio morar em Porto Alegre com 13 anos. Depois disso, nunca mais voltou à sua terra natal e diz que não tem interesse de voltar porque a cidade não possui mais as mesmas características de antes. “Prefiro continuar com esta lembrança forte na minha cabeça. Nem penso em voltar lá para não me decepcionar. Não quero apagar aquela lembrança da infância.”


Segundo o jornalista, sua adolescência foi complicada, pois saíra de uma cidade pequena para vir morar na Capital, o que lhe dificultou ter amigos conhecidos na cidade. Terminou o Ensino Médio (que na época se chamava Curso Secundário) no Colégio Estadual Júlio de Castilhos.

Uma viagem inesquecível
Com 20 anos, Clóvis ingressou na faculdade com muitas perspectivas. No primeiro ano como universitário conseguiu emprego na Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) e também, como locutor, na Rádio da Ufrgs. A partir daí, se dedicava aos trabalhos, além dos estudos. “A rádio foi meu emprego mais tranquilo, pois não havia competição.”
No final de 1971, no auge da ditadura militar, o País estampava sua propaganda oficial, nas televisões, rádios e jornais: “Brasil, ame-o ou deixe-o!” Em busca do sossego e com vontade de fugir do “tumulto” que rodeava o país, Clóvis e mais seis colegas de faculdade resolveram viajar por toda a América do Sul. Mochila nas costas e instrumentos debaixo do braço, o grupo que tocava música brasileira partiu de Porto Alegre sem roteiro de viagem definido, nem lugar certo para se hospedar.


A banda seguiu até Uruguaiana de trem, atravessou a fronteira e foi tocar na Argentina. Logo se depararam com outros quatro músicos que também haviam saído do Brasil com um motor home. O grupo virou uma banda com 11 integrantes e seguiu viagem, fazendo shows para sobreviver. Depois de dois meses, em La Paz, na Bolívia, os amigos gaúchos se separaram. Os que tinham saído de Porto Alegre permaneceram na Bolívia e Clóvis seguiu com os cariocas, que, além de música, também fabricavam e vendiam brincos e colares.


No Peru, após muitos problemas mecânicos com o ônibus, os cariocas voltaram para o Brasil. Clóvis seguiu viagem com dois gaúchos que havia conhecido. Na base da carona, os três foram parar no Equador, onde cantavam em praças, bares e restaurantes. Acabaram conhecendo três americanos e um colombiano, com quem moraram por algum tempo. Depois dos sonhos realizados, aventuras alcançadas, desilusões e até a utilização de algumas drogas como maconha, cocaína e ácido lisérgico, os vistos de cada um já estavam precisando de renovação. Então, Clóvis retornou à cidade gaúcha.


Depois da viagem, um profissional
Hoje, com cabelos brancos, o jornalista lembra com muito carinho da época e afirma que a viagem foi fundamental para o seu lado existencial. “Saí daqui um guri bobo, achando que conhecia muito, mas que na verdade não sabia nada. Voltei um homem feito para encarar os desafios que apareceriam.” Toda a história da aventura, desde o início, está relatada em um blog, o qual Clóvis pretende transformar em um livro. Além deste, ele mantém o Correcaminos, onde posta algumas de suas fotografias, informações sobre livros, filmes, viagens que faz e algumas de suas curiosidades.


Em 1972, retomou os estudos na universidade. Da rádio da Ufrgs, Clóvis foi trabalhar na Continental, uma rádio jovem da época que continha noticiários feitos com uma linguagem mais coloquial. Demitido da Continental, foi contratado para trabalhar na TV Gaúcha, a atual RBS TV. De lá, em 1974, foi convidado por Antonio Britto para trabalhar como redator na Central do Interior da empresa Caldas Júnior.


Em 1980, começou a trabalhar na Rádio Gaúcha e, menos de um mês depois, passou a chefe de reportagem na RBS TV. Em 1987, convidado por Núbia Silveira, foi atuar na redação da Zero Hora. Paralelamente, trabalhou na Assembleia Legislativa e na sucursal do jornal O Globo, como repórter. “Meu trabalho na RBS tinha a função de integrar, na mesma direção, a rádio, a televisão, o jornal. Eu tinha que mostrar como trabalhava bem uma empresa integrada.”
Durante o tempo em que trabalhou na Agência RBS (antes de se tornar Grupo RBS), viajou para muitos locais. Para ele, este foi um dos momentos de maior satisfação em sua carreira, pois visitou lugares que jamais pensava em conhecer, como Barcelona, Canadá, Dinamarca e Emirados Árabes. Outro momento de grande prestígio foi a conquista do Prêmio ARI de Jornalismo, em 1997, pela produção de um caderno que trazia o desenvolvimento da história e origem do Rio Grande do Sul.


Segundo ele, a profissão de jornalista proporcionou muitas alegrias. Mas ressalva que “durante muitos anos não tive folga, feriados e Carnaval. Vi que era hora de parar.” Em agosto de 2005, após 35 anos de contribuição para o jornalismo, Clóvis decidiu se aposentar. Atualmente, está feliz por poder administrar o seu tempo, sem concorrências e sem estresse. Um dos objetivos para o próximo ano é o lançamento do livro sobre a história do jornalista Breno Caldas Júnior, que completaria 100 anos em 2010. Para a publicação, Clóvis está realizando um trabalho de pesquisa histórica, juntamente com os jornalistas Celito de Grandi, João Borges de Souza e Núbia Silveira.


Dia-a-dia com tranquilidade
Com certa timidez, que às vezes até o deixa ruborizado, Clóvis conta que sua rotina diária começa por volta das 8h quando seu cachorro Lord, da raça yorkshire, o acorda. A primeira função do dia é passear com o cãozinho de sete anos. Depois do passeio, geralmente, o jornalista se informa através da leitura e prepara o café da manhã regado a muitos sucos, granola, iogurte e pão preto.
Casado há 36 anos com a advogada Laís Lobato Heberle, também aposentada, segue o dia fazendo tarefas às quais antes não tinha tempo para se dedicar. “Faço pequenas coisas que antes não conseguia fazer. Cuido da casa e da minha mulher, pois sempre fui um marido muito ausente. Também gosto muito de cozinhar.”


No esporte, suas preferências são andar de bicicleta, nadar, praticar hidroginástica e caminhar. Enquanto está em casa, ouve diferentes tipos de música. “Tenho uma discoteca bem variada. Tudo depende do momento e do estado de espírito em que estou.” Em sua estante podem ser encontrados variados estilos musicais como blues, música folclórica argentina, uruguaia e andina, bossa nova, rock e música clássica. Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd, João Gilberto, Caetano Veloso, Mozart, Vivald e Tchaikovsky são alguns dos CDs que ele tem.


No verão, de novembro até maio, Clóvis e sua esposa praticamente moram na praia de Imbé. Quando o inverno começa, o casal, que não possui filhos, volta a morar em Porto Alegre. Uma de suas práticas habituais é ir quase todos os invernos para o Nordeste. Florianópolis é outro lugar que está sempre em seus roteiros de viagens, até porque tem um gosto especial por esta cidade: “Quero morar lá um dia e fazer uma pós-graduação.”


Apesar de admitir ter sido muito feliz na profissão, ele não pensa em voltar para a concorrência do mercado de trabalho. Se estabilizar em alguma cidade e trabalhar em algo que não lhe exija uma rotina diária são alguns planos para o futuro. “Gostaria de trabalhar como tradutor e me manter em atividade, mas, sem rotina diária.”


Além das viagens que realizou a trabalho, depois de aposentar-se conheceu também Argentina, Chile, Uruguai, o Sertão e todo o litoral brasileiro até São Luiz do Maranhão. Entre os lugares que ainda gostaria de conhecer estão a África, o Himalaia, o Saara e o Tibet. Em uma escala na Alemanha, Clóvis passou um dia na cidade de Frankfurt, onde teve “boas sensações” devido a sua ascendência alemã. “Gostaria muito de conhecer este lugar.”


O jornalista não dispensa a soneca de 20 minutos depois do almoço e gosta de dar valor às coisas simples, como um bom vinho que, necessariamente, não precisa ser caro, um belo dia de sol ou até uma flor. Atualmente, o que ele mais preza em sua vida é o fato de ser dono do seu tempo e de seu espaço. “Por quase toda a minha vida, eu vendi 10 ou 12 horas do meu dia para alguma empresa. Agora, eu e minha esposa somos donos da nossa vida e esse é meu grande privilégio.”
O que mais lhe deixa feliz é, hoje, poder levar uma vida saudável, com muita alegria, poder programar suas coisas, destinar suas viagens e organizar seus horários. “Preservo muito minha liberdade. Quero manter sempre esta harmonia familiar e continuar fazendo minhas viagens.”

Paixão pelo preto e branco

Jacqueline Joner

Independência desde cedo foi um traço que marcou a infância de Jacqueline Rosane Cardoso Joner. Jacque, como é geralmente chamada, lembra dos vestidos que desenhava quando era criança e levava até a costureira sem a ajuda da mãe. Os cortes, os ajustes, o tamanho, o tecido, tudo era ela quem decidia, a partir de uma sensibilidade para o desenho e para a pintura que começou desde muito cedo, quando ela tinha oito anos.


A liberdade que tinha, dada pelos pais Nolly Joner e Themis Cardoso Joner, é outro ponto que Jacqueline lembra ter enquanto morava na cidade de Santa Rosa, onde nasceu em 4 de janeiro de 1953. O pai, político e contabilista, trabalhava com cooperativas agrícolas e, em 1964, foi eleito deputado estadual. Assim, com 11 anos, ela teve que deixar a cidade do Interior, os amigos e a escola para residir na Capital. A fotógrafa trocou sua casa “enorme”, com pátio e pomar, por um apartamento no bairro Cidade Baixa. Credita a estas mudanças o fato de ter vivido o que considera uma adolescência reclusa, mas com muita leitura.

Aos 18 anos, começou a despertar o interesse por Porto Alegre. “Comecei a me comportar como alguém que assumia a cidade e se sentia bem nela.” No colégio Sevigné, onde estudava, conheceu a amiga Beta. As duas tinham uma paixão em comum: livros e cinema. Juntas, adoravam se fotografar com uma “antiga” câmera que a mãe de Jacque havia comprado.

O amor pela fotografia
O gosto pela pintura e a vontade de fotografar levaram Jacqueline a se inscrever no vestibular para o curso de Jornalismo e, em 1973, ela ingressou na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC). Durante um ano, cursou a disciplina de Fotografia e foi sentada à beira de uma calçada que ela se apaixonou por esta arte. Folheando um jornal, viu a foto de uma mulher com traços indígenas carregando, em uma mão, uma criança, e em outra, uma trouxa de roupas. Ao fundo, uma estrada sem fim. “Eu achei aquilo tão lindo, tocante e, ao mesmo tempo, cultural.”

A partir daí, Jacque resolveu seguir outro tipo de linguagem: ao invés das palavras, ela queria passar as informações aos leitores através de imagens. Em 1974, começou a trabalhar como estagiária na Zero Hora, juntamente com Eneida Serrano, Jussara Coelho e Lisete Guerra. Antes das quatro fotógrafas, somente uma mulher havia trabalhado na ZH, o que, segundo ela, originou-se um preconceito, por parte da redação e de outros fotógrafos, por elas serem mulheres e universitárias.

Como eram “diferentes” por estarem cursando o ensino superior, Jacqueline, Eneida e Jussara foram demitidas. Lisete continuou pelo fato de ter optado por outro tipo de fotografia: a de moda. Durante o período na ZH, Jacque conheceu um vilarejo pobre, chamado Burgo, em Caxias do Sul. Deste lugar, fez um ensaio com fotos dos moradores do local. Foi aí que ela desenvolveu um interesse pelo social, pelo comportamento humano.

Durante algum tempo ficou desempregada, fazendo freelancer em uma agência de fotografia onde conheceu o também fotógrafo Luiz Abreu. Nesta época, Jacqueline trabalhou com Isnar Ruas, profissional de quem sempre teve apoio e que na época montara a agência Intermédio, juntamente com Ana Amélia Lemos e outros sócios.

Em 1976, ano em que se formou, Jacqueline começou a trabalhar como editora de fotografia na Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre (Coojornal), uma entidade criada por jornalistas que se reuniam para editar publicações e trabalhar por conta própria. “Muita gente importante do jornalismo gaúcho trabalhou lá, como Elmar Bones e Rosvita Saueressig”, relembra ela.

No final da década de 70, começou a captar imagens para uma revista da Coojornal, chamada Agricultura & Cooperativismo. Mesmo depois de sair da cooperativa, Jacque continuou se dedicando a este projeto. Com o seu primeiro marido, também jornalista, André Pereira, morou e viajou pelo interior do Estado fotografando a vida dos colonos no Rio Grande do Sul. “Esse período foi muito importante na minha vida. Foi lá que eu fiz as fotos que uso até hoje e pelas quais tenho muito carinho.” Através da ajuda de uma fotógrafa italiana chamada Stefania Brill, as fotos dos colonos percorreram o Brasil e o mundo.

Início das exposições
Em 1979, juntamente com os fotógrafos Luiz Abreu, Eneida Serrano e o irmão Genaro Joner, Jacqueline montou a agência de fotografia Ponto de Vista. O trabalho com os colonos seguiu até 1983, quando foi concluído com a exposição chamada “O funeral de Olinto Soitera”. Nesse mesmo ano, ela voltou para Porto Alegre e continuou trabalhando como freelancer. Em 1986, Jacqueline foi convidada para ser a editora de fotografia de um novo projeto de jornal em Porto Alegre: o Diário do Sul, ligado à Gazeta Mercantil. “Era um projeto diferenciado, com design gráfico bastante sofisticado. Ele tinha um jornalismo criativo e interpretativo.”

Após dois anos, o jornal acabou fechando e Jacqueline foi convidada pelo Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs) para expor as fotografias que havia produzido durante o período em que trabalhou na publicação.

Em 1989, ela abriu o Atelier de Photographia onde trabalhava para várias empresas e produzia até capa de CDs. Durante este período, construiu trabalhos autorais que mais tarde se tornariam exposições. Nos anos 90, surgiu a proposta de um livro no qual sete escritores retratariam, cada um, uma década. Jacqueline fotografou Cyro Martins, Carlos Reverbel, Lya Luft, Luis Fernando Verissimo, José Antônio Pinheiro Machado, Tabajara Ruas e João Gilberto Noll, para a publicação que se chamou “Sombras e Luzes, um olhar sobre o século”.

Outra exposição que começou a nascer foi “Retratos de Casamento”. Durante seis meses, Jacqueline ficou em Santa Catarina fotografando casais dos mais diferentes tipos. Altos, baixos, gordos, magros, brancos, negros foram os personagens da exposição que venceu o Prêmio Concorrência Fiat de Artes Plásticas. As fotos acabaram correndo todo o Brasil, como de costume.

Professora: teoria, rigor e afeto
Em 1999, Jacqueline foi indicada pelo fotógrafo Eduardo Tavares para lecionar durante seis meses na Unisinos. Mesmo apreensiva, aceitou o convite. Os olhos dos alunos, “ansiosos pelo saber da fotografia”, fizeram com que ela se apaixonasse por dar aulas. “Eu tinha tanta experiência e conhecimentos guardados dentro de mim, por que não passar adiante?” Gostou tanto que, em 2001, virou professora da PUC.

Em 2003, ela foi convidada a participar de um novo curso da Unisinos, desta vez sobre Cinema. De volta a esta universidade, Jacqueline teve que recriar a disciplina de Fotografia. “Eu desmanchei tudo que estava pronto e montei uma nova infraestrutura.” No currículo do novo curso, a professora incluiu teoria, prática, rigor e afeto aos alunos, que, segundo ela, era quase o mesmo que ela dava aos filhos. O trabalho se estendeu até julho do ano passado, quando deixou a universidade para “tirar férias e repensar o que queria da vida”.

Nesse mesmo ano, ela lançou a exposição “Aleluia”, na qual retrata imagens de algumas partes e texturas do corpo de um homem negro: o de seu marido, o ex-aluno Mauro de Souza, 56, com quem é casada, pela terceira vez (antes, esteve casada durante oito anos com o jornalista Airton Kanitz). Atualmente, Jacque está fazendo pós-graduação em Poéticas Visuais – Desenho, Pintura e Processos Híbridos, na Feevale. Além disso, aos sábados realiza aulas no Projeto Contato, onde trabalha o aprofundamento da Fotografia, ensinando aos alunos como olhar através da câmera.

Contemplação de pequenas coisas
Atualmente, com 56 anos e cabelos curtos, quase raspados, Jacqueline adora fazer de tudo e ao mesmo tempo não fazer nada. Suas preferências nos dias de folga são ficar em casa e ler. Contempla tanto as grandes obras de arte, quanto uma pedra no meio da rua. A fotografia, a pintura e as artes plásticas são alguns de seus passatempos, expostos nas estantes e paredes de seu apartamento. “Tenho que me mudar para uma casa maior. As paredes estão cheias de quadros e quando eu pinto, voa tinta por tudo”.


Ela se diz feliz e, em Mauro, garante ter certeza que encontrou o grande amor da sua vida. “Ele é para sempre. A gente sabe quando vai envelhecer ao lado de uma pessoa.” Os filhos Pedro, 31, formado em Educação Física, e Camila, 26, formada em Turismo e pós-graduada em Design, ambos do primeiro casamento, são também personagens que estampam as fotografias anexadas junto às paredes.


No sofá da sala de sua casa, com cigarro no meio dos dedos, a fotógrafa chega a se perder no meio de tantas pastas com currículos, portfólio, exposições e palestras. Mas, todos eles têm uma característica em comum: o retrato, formato que prevaleceu junto ao seu nome desde a época que ela e sua amiga Beta se fotografavam.


Uma de suas motivações é a vida, é estar viva. Ela se define como uma pessoa um pouco triste e muito sensível a qualquer tipo de sentimento ou beleza, que a cada dia tenta aprender em cima de seus erros. Sua principal marca é a verdade, característica que coloca em cada uma de suas exposições.


As fotos que levam o nome Jacqueline Joner já percorreram o Brasil, Argentina, França, Itália, México, Nicarágua, Portugal, Rússia e Suíça, e estão, ou estiveram, em lugares como Margs, Masp, Museu de Imagem do Som, Fundação Nacional das Artes (Funarte), entre tantos outros lugares. Apesar de todo o conhecimento que este nome leva, o exterior mais longe que a fotógrafa já conheceu foi Buenos Aires e nem ela entende direito como suas obras se desenvolveram no exterior.


Em seus planos, cidades como Nova York e Paris aparecem como primeiro destino de viagem. Se vai alcançá-los, ou não, Jacqueline não sabe. Mas do que ela tem certeza é de que, enquanto tiver os filhos do seu lado e o amor do marido, terá motivação de sobra para continuar vivendo e realizando o que mais gosta fazer.

Movido a mudanças

Laerte Martins

Vontade de mudar o mundo. Este foi o ponto principal que levou Laerte Cafruni Martins a escolher o curso de Jornalismo na década de 60. Afinal, desde a infância tivera contato com jornalistas na casa de seu tio Alberto André, o longevo presidente da Associação Riograndense de Imprensa (ARI). Ainda na residência do tio, foi forte a convivência com muitos livros e jornais de todo o gênero.

Hoje Laerte diz que foi este contato com a comunicação que o levou a pensar em participar mais da vida comunitária. “Influenciar na política, no comportamento e na vida das pessoas foi isso que me levou a este meio.” Depois de prestar vestibular para Medicina e cursar Direito por seis meses, ele ingressou, em 1967, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) para cursar Jornalismo. Na época, a Publicidade aparecia somente como uma cadeira do curso.

Descendente de libaneses, Laerte Martins nasceu em Porto Alegre, no dia 18 de dezembro de 1945. Lembra com nostalgia do tempo em que jogava futebol nas ruas sem que houvesse carros para atrapalhar. Vindo de uma família simples (o pai Cecim, era camiseiro, a mãe Naza, era dona-de-casa), hoje o profissional com cabelos grisalhos afirma que gostaria de contribuir para que a barreira do Rio Grande do Sul com o resto do Brasil e do mundo terminasse: ele entende que o maniqueísmo de certo ou errado, azul ou vermelho, chimango ou maragato, contribui para distanciar o Sul do restante do país.

Um profissional, três carreiras
No mesmo ano em que iniciou a faculdade, Laerte conseguiu um emprego na TV Piratini, onde trabalhava sem remuneração alguma. Mais tarde, tomou conhecimento de que, se conseguisse patrocinadores, poderia ganhar dinheiro na televisão. Foi o que ele fez: durante um ano na emissora, quando produziu um programa semanal de notícias, literatura e poesia. Em 1968, ainda estudante, começou a trabalhar na sucursal de Porto Alegre do Jornal do Brasil.

Em 1969, Laerte se formou e foi convidado por um antigo professor a lecionar na cadeira de Publicidade e Propaganda. Ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul como professor horista e, mais tarde, efetivou-se após concurso. Além da Publicidade, atuou nas áreas de Marketing, Cinema e Televisão.

Ao mesmo tempo em que trabalhava como professor e jornalista, começou a fazer redações publicitárias para uma agência de propaganda .
Nesta mesma agência trabalhava Ezíodo de Andrade, que se tornaria seu sócio em 1972, quando fundaram a agência Martins e Andrade Propaganda. ”Era uma manhã de inverno e estávamos indo apresentar uma campanha a um cliente quando nos perguntamos: por que não abrimos a nossa agência de propaganda?”. No edifício Coliseu, em Porto Alegre, os sócios alugaram uma sala, contrataram funcionários e iniciaram a agência. Foi nesta época que Laerte decidiu de uma vez por todas: iria se dedicar somente ao negócio da propaganda.

Ele garante que a agência se tornou umas das mais criativas do Brasil concorrendo, naquela década, com a famosa MPM Propaganda. Para Laerte, esta foi uma linda fase: “O que eu vivi nos anos 70 foi um período de enorme criatividade, enorme abertura e muita rebeldia”.

Em Cannes, a glória
Em 1979, foi convidado a fazer parte do júri do Festival de Cannes, o que ele considera o momento de maior satisfação e reconhecimento de sua carreira. O gaúcho foi o único profissional do Brasil fora do eixo Rio-São Paulo a atuar como jurado de filme publicitário no evento. Logo que voltou da França, recebeu um convite para fazer uma pós-graduação de Cinema e Televisão, no Texas. Após uma negociação com o sócio Ezíodo, desligou-se da Martins e Andrade e, também, da Ufrgs para estudar durante dois anos nos Estados Unidos.

Na volta para o Brasil, o publicitário começou a trabalhar como freelancer na produção de comerciais e voltou a lecionar na Ufrgs. Juntando sua atuação na publicidade com sua pós em cinema, Laerte fundou, em 1981, a Sabiá Produções Artísticas, que em 1985 foi transferida para o amigo Ênio Lindenbaun. No mesmo ano, o publicitário foi convidado para trabalhar na agência Módulo, onde permaneceu por dois anos.

Em 1987, junto de Günther Staub e Valdir Loeff, Laerte montou a SLM Comunicação & Marketing (hoje SLM Ogilvy). Nesta agência, trabalhou por cinco anos junto de profissionais como Mauro Dorffman e Vitor Knijnik, que começaram como estagiários e atualmente são donos da Dez Propaganda.

“Sou movido a mudanças, quando as coisas começam a ficar muito burocráticas, me dá uma vontade enorme de mudar.” Com este pensamento, em 1995, Laerte resolveu sair da SLM e montou a empresa LM Multicom, que presta consultoria de marketing e comunicação. Até este momento, ele lecionava simultaneamente na Ufrgs, onde se aposentou em 1999, após 30 anos como professor. “Achei que era tempo demais e era hora de parar.” Hoje, o publicitário se dedica somente a sua empresa, que também cria projetos de pesquisa de opinião e de endomarketing.

Responsabilidade Social
Na época em que iniciou a Martins e Andrade, Laerte, juntamente com Ezíodo, achava que a empresa tinha que ter também uma atuação na área de responsabilidade social e cultural. Desde o início, apoiaram movimentos culturais e artísticos, entre eles, o teatro, a música, as artes plásticas e a ecologia.

Partindo deste principio, os dois sócios criaram uma campanha para a prefeitura de Porto Alegre chamada “Adote uma Árvore”, que distribuiu 500 mil mudas prontas para o plantio. A campanha existe até hoje e no ano em que ela foi lançada, Laerte recebeu um prêmio da organização internacional de preservação ambiental WWF. Embora tenha recebido muitas premiações ao longo de sua trajetória profissional, ele garante que não dá tamanha importância a elas. “Para mim, receber um prêmio é a mesma coisa que o meu dentista ganhar o prêmio de melhor dentista do ano. Que diferença isso fará para mim?”

Uma de suas metas para os próximos anos é aumentar a participação como cidadão na sociedade, através de organizações não-governamentais e grupos de pressão. “O pouco que fizermos para mudar o que está aí, vai fazer diferença lá na frente para os nossos filhos e netos.” Ele acha que falta apoio cultural por parte das empresas no Rio Grande do Sul. Com base nessa ideia, prevê para o futuro trabalhar pela formação de um grupo de pessoas que estejam interessadas no meio ambiente e na cultura. Outro ponto que ele gostaria de mudar é a influência da mídia na cultura dos gaúchos, gerando um movimento de resgate da opinião das pessoas que residem no Estado. “O que temos hoje é como se fosse uma ditadura midiática, que ordena as pessoas a irem ao litoral no verão, a Gramado no inverno e a entrar em batalha no domingo de Gre-Nal”.

Aposentadoria não
Estar sempre bem informado é uma das manias do publicitário que não pensa em se aposentar, pois se imagina sempre trabalhando e procurando coisas novas. Essa vontade, Laerte herdou do pai, que trabalhou até o dia de seu falecimento, no ano passado, com 97 anos. “Essa é minha herança, gosto muito do que eu faço, porque eu lido com as mais diversas áreas de conhecimento. Não penso em aposentadoria.”

Do seu primeiro casamento, vieram os filhos Lúcio, com 37 anos, pai da Martina, com um ano, e Daniel, 35. Há 15 anos, o publicitário casou-se pela segunda vez com Inês, mãe de seu terceiro filho, o Laerte, de 13 anos, que, segundo o pai, é “um grande apreciador de cinema”. Laerte e Inês se conheceram “depois de trocarem olhares” em um restaurante japonês de Porto Alegre. O casamento aconteceu em uma cerimônia na prefeitura de Nova York, que depois foi validada no Brasil.

Laerte não só tira os fins de semana de folga, mas também algumas tardes durante a semana, as quais aproveita para largar tudo e apreciar uma de suas grandes paixões: o cinema. Ao mesmo tempo, ele gosta também de ficar em casa com o filho. “Depois que ele aprendeu a baixar filmes da internet eu não tenho ido com a mesma frequência no cinema. Já vimos todos os que foram indicados ao Oscar, em casa.”


Gastronomia é outra opção de lazer que lhe agrada. Aos sábados, o publicitário não deixa de almoçar no Mercado Público, local que frequenta há 40 anos. Ele se considera um curioso na cozinha e arrisca dizer que faz uma maravilhosa vitela. “Realmente, é muito boa. Pelo menos é o que dizem as pessoas que a apreciam.” Para os ouvidos, o rock, o blues e a MPB são as opções. Entre os artistas que Laerte mais gosta, estão os Rolling Stones, Franz Ferdinand, Buddy Guy e “alguma coisa” de Skank, mas, a sua grande paixão é Bob Dylan.


Para manter a forma e o equilíbrio do corpo, Laerte pratica, semanalmente, pilates e musculação. Fascinado por viagens, sempre que pode visita um lugar diferente. Ele não gosta de visitar pontos turísticos e sim viver cada cidade que conhece. Entre as que mais gosta estão Paris, Nova York e Boston. Líbano e Índia são os dois países que estão nas suas próximas rotas de viagens.
A missão deste publicitário, de família simples, é fazer com que a comunicação não seja um bem de poucos, mas a diferença de muitos. Ao longo de sua trajetória, Laerte foi moldado por muitas filosofias de vida e desta mesma trajetória ele aprendeu que “a vida é o maior bem que temos, enquanto estamos aqui”. Todo o dia que nasce, para ele, é um recomeço, pois a vida proporciona isso, basta só ir atrás das mudanças. “Sempre que me levanto, eu penso assim: está na hora de começar de novo.”