sexta-feira, 3 de julho de 2009

Movido a mudanças

Laerte Martins

Vontade de mudar o mundo. Este foi o ponto principal que levou Laerte Cafruni Martins a escolher o curso de Jornalismo na década de 60. Afinal, desde a infância tivera contato com jornalistas na casa de seu tio Alberto André, o longevo presidente da Associação Riograndense de Imprensa (ARI). Ainda na residência do tio, foi forte a convivência com muitos livros e jornais de todo o gênero.

Hoje Laerte diz que foi este contato com a comunicação que o levou a pensar em participar mais da vida comunitária. “Influenciar na política, no comportamento e na vida das pessoas foi isso que me levou a este meio.” Depois de prestar vestibular para Medicina e cursar Direito por seis meses, ele ingressou, em 1967, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) para cursar Jornalismo. Na época, a Publicidade aparecia somente como uma cadeira do curso.

Descendente de libaneses, Laerte Martins nasceu em Porto Alegre, no dia 18 de dezembro de 1945. Lembra com nostalgia do tempo em que jogava futebol nas ruas sem que houvesse carros para atrapalhar. Vindo de uma família simples (o pai Cecim, era camiseiro, a mãe Naza, era dona-de-casa), hoje o profissional com cabelos grisalhos afirma que gostaria de contribuir para que a barreira do Rio Grande do Sul com o resto do Brasil e do mundo terminasse: ele entende que o maniqueísmo de certo ou errado, azul ou vermelho, chimango ou maragato, contribui para distanciar o Sul do restante do país.

Um profissional, três carreiras
No mesmo ano em que iniciou a faculdade, Laerte conseguiu um emprego na TV Piratini, onde trabalhava sem remuneração alguma. Mais tarde, tomou conhecimento de que, se conseguisse patrocinadores, poderia ganhar dinheiro na televisão. Foi o que ele fez: durante um ano na emissora, quando produziu um programa semanal de notícias, literatura e poesia. Em 1968, ainda estudante, começou a trabalhar na sucursal de Porto Alegre do Jornal do Brasil.

Em 1969, Laerte se formou e foi convidado por um antigo professor a lecionar na cadeira de Publicidade e Propaganda. Ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul como professor horista e, mais tarde, efetivou-se após concurso. Além da Publicidade, atuou nas áreas de Marketing, Cinema e Televisão.

Ao mesmo tempo em que trabalhava como professor e jornalista, começou a fazer redações publicitárias para uma agência de propaganda .
Nesta mesma agência trabalhava Ezíodo de Andrade, que se tornaria seu sócio em 1972, quando fundaram a agência Martins e Andrade Propaganda. ”Era uma manhã de inverno e estávamos indo apresentar uma campanha a um cliente quando nos perguntamos: por que não abrimos a nossa agência de propaganda?”. No edifício Coliseu, em Porto Alegre, os sócios alugaram uma sala, contrataram funcionários e iniciaram a agência. Foi nesta época que Laerte decidiu de uma vez por todas: iria se dedicar somente ao negócio da propaganda.

Ele garante que a agência se tornou umas das mais criativas do Brasil concorrendo, naquela década, com a famosa MPM Propaganda. Para Laerte, esta foi uma linda fase: “O que eu vivi nos anos 70 foi um período de enorme criatividade, enorme abertura e muita rebeldia”.

Em Cannes, a glória
Em 1979, foi convidado a fazer parte do júri do Festival de Cannes, o que ele considera o momento de maior satisfação e reconhecimento de sua carreira. O gaúcho foi o único profissional do Brasil fora do eixo Rio-São Paulo a atuar como jurado de filme publicitário no evento. Logo que voltou da França, recebeu um convite para fazer uma pós-graduação de Cinema e Televisão, no Texas. Após uma negociação com o sócio Ezíodo, desligou-se da Martins e Andrade e, também, da Ufrgs para estudar durante dois anos nos Estados Unidos.

Na volta para o Brasil, o publicitário começou a trabalhar como freelancer na produção de comerciais e voltou a lecionar na Ufrgs. Juntando sua atuação na publicidade com sua pós em cinema, Laerte fundou, em 1981, a Sabiá Produções Artísticas, que em 1985 foi transferida para o amigo Ênio Lindenbaun. No mesmo ano, o publicitário foi convidado para trabalhar na agência Módulo, onde permaneceu por dois anos.

Em 1987, junto de Günther Staub e Valdir Loeff, Laerte montou a SLM Comunicação & Marketing (hoje SLM Ogilvy). Nesta agência, trabalhou por cinco anos junto de profissionais como Mauro Dorffman e Vitor Knijnik, que começaram como estagiários e atualmente são donos da Dez Propaganda.

“Sou movido a mudanças, quando as coisas começam a ficar muito burocráticas, me dá uma vontade enorme de mudar.” Com este pensamento, em 1995, Laerte resolveu sair da SLM e montou a empresa LM Multicom, que presta consultoria de marketing e comunicação. Até este momento, ele lecionava simultaneamente na Ufrgs, onde se aposentou em 1999, após 30 anos como professor. “Achei que era tempo demais e era hora de parar.” Hoje, o publicitário se dedica somente a sua empresa, que também cria projetos de pesquisa de opinião e de endomarketing.

Responsabilidade Social
Na época em que iniciou a Martins e Andrade, Laerte, juntamente com Ezíodo, achava que a empresa tinha que ter também uma atuação na área de responsabilidade social e cultural. Desde o início, apoiaram movimentos culturais e artísticos, entre eles, o teatro, a música, as artes plásticas e a ecologia.

Partindo deste principio, os dois sócios criaram uma campanha para a prefeitura de Porto Alegre chamada “Adote uma Árvore”, que distribuiu 500 mil mudas prontas para o plantio. A campanha existe até hoje e no ano em que ela foi lançada, Laerte recebeu um prêmio da organização internacional de preservação ambiental WWF. Embora tenha recebido muitas premiações ao longo de sua trajetória profissional, ele garante que não dá tamanha importância a elas. “Para mim, receber um prêmio é a mesma coisa que o meu dentista ganhar o prêmio de melhor dentista do ano. Que diferença isso fará para mim?”

Uma de suas metas para os próximos anos é aumentar a participação como cidadão na sociedade, através de organizações não-governamentais e grupos de pressão. “O pouco que fizermos para mudar o que está aí, vai fazer diferença lá na frente para os nossos filhos e netos.” Ele acha que falta apoio cultural por parte das empresas no Rio Grande do Sul. Com base nessa ideia, prevê para o futuro trabalhar pela formação de um grupo de pessoas que estejam interessadas no meio ambiente e na cultura. Outro ponto que ele gostaria de mudar é a influência da mídia na cultura dos gaúchos, gerando um movimento de resgate da opinião das pessoas que residem no Estado. “O que temos hoje é como se fosse uma ditadura midiática, que ordena as pessoas a irem ao litoral no verão, a Gramado no inverno e a entrar em batalha no domingo de Gre-Nal”.

Aposentadoria não
Estar sempre bem informado é uma das manias do publicitário que não pensa em se aposentar, pois se imagina sempre trabalhando e procurando coisas novas. Essa vontade, Laerte herdou do pai, que trabalhou até o dia de seu falecimento, no ano passado, com 97 anos. “Essa é minha herança, gosto muito do que eu faço, porque eu lido com as mais diversas áreas de conhecimento. Não penso em aposentadoria.”

Do seu primeiro casamento, vieram os filhos Lúcio, com 37 anos, pai da Martina, com um ano, e Daniel, 35. Há 15 anos, o publicitário casou-se pela segunda vez com Inês, mãe de seu terceiro filho, o Laerte, de 13 anos, que, segundo o pai, é “um grande apreciador de cinema”. Laerte e Inês se conheceram “depois de trocarem olhares” em um restaurante japonês de Porto Alegre. O casamento aconteceu em uma cerimônia na prefeitura de Nova York, que depois foi validada no Brasil.

Laerte não só tira os fins de semana de folga, mas também algumas tardes durante a semana, as quais aproveita para largar tudo e apreciar uma de suas grandes paixões: o cinema. Ao mesmo tempo, ele gosta também de ficar em casa com o filho. “Depois que ele aprendeu a baixar filmes da internet eu não tenho ido com a mesma frequência no cinema. Já vimos todos os que foram indicados ao Oscar, em casa.”


Gastronomia é outra opção de lazer que lhe agrada. Aos sábados, o publicitário não deixa de almoçar no Mercado Público, local que frequenta há 40 anos. Ele se considera um curioso na cozinha e arrisca dizer que faz uma maravilhosa vitela. “Realmente, é muito boa. Pelo menos é o que dizem as pessoas que a apreciam.” Para os ouvidos, o rock, o blues e a MPB são as opções. Entre os artistas que Laerte mais gosta, estão os Rolling Stones, Franz Ferdinand, Buddy Guy e “alguma coisa” de Skank, mas, a sua grande paixão é Bob Dylan.


Para manter a forma e o equilíbrio do corpo, Laerte pratica, semanalmente, pilates e musculação. Fascinado por viagens, sempre que pode visita um lugar diferente. Ele não gosta de visitar pontos turísticos e sim viver cada cidade que conhece. Entre as que mais gosta estão Paris, Nova York e Boston. Líbano e Índia são os dois países que estão nas suas próximas rotas de viagens.
A missão deste publicitário, de família simples, é fazer com que a comunicação não seja um bem de poucos, mas a diferença de muitos. Ao longo de sua trajetória, Laerte foi moldado por muitas filosofias de vida e desta mesma trajetória ele aprendeu que “a vida é o maior bem que temos, enquanto estamos aqui”. Todo o dia que nasce, para ele, é um recomeço, pois a vida proporciona isso, basta só ir atrás das mudanças. “Sempre que me levanto, eu penso assim: está na hora de começar de novo.”

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