sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um fotógrafo, dois olhares

Ricardo Giusti

Apaixonado pelo jornalismo e, em particular, pela linguagem da fotografia. É assim que João Ricardo Testa de Giusti se define. Encantado com o mundo da comunicação, Giusti estava sempre presente nas redações dos jornais em que seu pai, o jornalista Benito Giusti, trabalhava.

A forte influência do pai, que vivia rodeado de jornalistas, e as visitas constantes que fazia com ele ao Bar da ARI (Associação Riograndense de Imprensa) fizeram com que Giusti escolhesse a mesma profissão. Nascido em Porto Alegre, no dia 20 de junho de 1961, lembra de um presente muito marcante na sua adolescência: a primeira câmera que pegou nas mãos, uma kodak instamatic que era da família. “Ela tinha pequenos cubos de flashes, que eu queimei fazendo testes escondidos. Foi minha primeira experiência com uma câmera.”


Em 1980, ainda “em cima do muro”, resolveu prestar vestibular para Educação Física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e para Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC). Acabou passando nas duas provas e começou a cursar as duas faculdades. Após um ano, resolveu continuar só com o jornalismo, já que esta era a sua grande paixão. A profissão que escolheu exigiu muito tempo e dedicação, por isso, somente em 2006 Giusti se formou.


Carreiras paralelas
Quando cursava o segundo semestre de Jornalismo, conseguiu um estágio na prefeitura de Porto Alegre, no Departamento Municipal de Habitação (Demhab). A segunda experiência com uma máquina fotográfica veio logo. Com uma Praktica MTL 3, uma câmera mais atualizada do que a última que havia usado, ele fotografava paisagens, pôr-do-sol e as namoradas.


Com o domínio das técnicas na ponta dos dedos, Giusti encontrou no Demhab uma forma de seguir uma carreira que se expressava com as imagens e não com as palavras. Em 1982, na ausência do fotografo titular do departamento, ele fazia a cobertura fotográfica das pautas do dia. A fotografia começou a encantar o estagiário e foi a partir daí que ele começou a direcionar o seu exercício profissional para o lado da reportagem fotográfica.


A cada dia, dominava cada vez mais as técnicas de fotografar. Fez concurso público e passou de estagiário a funcionário da Prefeitura. Logo, começou a trabalhar como fotógrafo no Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). Depois, foi requisitado para fotografar na Coordenação de Comunicação Social, departamento que acompanha as pautas do prefeito – e é ali, junto do principal gabinete da prefeitura, que Giusti trabalha até hoje: passa suas manhãs acompanhando as pautas do prefeito José Fogaça.


Em 1986, o empresário Renato Ribeiro comprou a Empresa Jornalística Caldas Júnior, e o pai de Giusti foi convidado para ser um dos secretários de redação do jornal Correio do Povo. Foi então que o profissional viu a oportunidade de trabalhar com fotografia no jornalismo diário. Pediu ao pai uma vaga no jornal, mesmo que fosse para cobrir as pautas da madrugada. O pedido foi aceito e ele começou a trabalhar no turno da noite. “Antes de entrar no jornal, eu já queria contribuir com fotos. Andava sempre com uma câmera a tiracolo. Acho que isso chateava um pouco os fotógrafos profissionais que estavam trabalhando.” Em 1995, Giusti deixou o turno da noite para passar a trabalhar à tarde no Correio do Povo.


Ao longo dos 28 anos de carreira, Giusti já viu passar muitos colegas, amigos e políticos na prefeitura - mas ele continua. No jornal, passou por diferentes momentos, pois, segundo ele, não existe uma rotina no jornalismo diário. “Cada dia é um dia diferente.” Com anos de trabalho dedicados ao jornal, há duas semanas foi convidado para ser chefe do Departamento de Fotografia do Correio do Povo, cargo vago com a aposentadoria do titular.


Aceitou, e agora tem o desafio de fazer um bom trabalho no novo cargo e dar continuidade às coisas boas da redação, além de ouvir sugestões dos profissionais que a integram. Ele afirma que não pensa em ficar “trancado” dentro do departamento, sempre que possível, ele quer estar na rua fotografando. Em um pouco mais de 15 anos, completa o seu tempo de trabalho na prefeitura e no jornal. Então, sua meta é se aposentar para curtir os momentos de lazer.


Os riscos e as glórias
Na infância, Giusti esteve sempre presente nos bons momentos da profissão, por isso, idolatrava o jornalismo. Mais tarde é que veio a descobrir que a reportagem fotográfica lhe traria, além de glórias, momentos de tensão, perigo e grandes desafios. “Temos que pegar chuva, frio e pisamos no barro também. Já fiz cobertura de chacinas, onde temos que ver muito sangue e pessoas mortas, entre elas crianças.” O termo DCP, criado por ele mesmo e que significa dedicação, competência e perfeição, sempre o acompanhou e fez com que ele alcançasse seus objetivos.

Um dos momentos mais difíceis e fatídicos que Giusti passou foi em 1994, quando teve que fazer a cobertura de uma rebelião no Presídio Central. Na noite do motim, os fugitivos foram liderados pelo assaltante Dilonei Melara, que roubou um táxi e invadiu o Hotel Plaza São Rafael com o carro. Tempos depois, na mesma penitenciária, passou por momentos de tiroteio entre policiais e bandidos. “Essas são as fases difíceis da carreira, você ter que trabalhar no meio do perigo.”

Grandes coberturas esportivas também já passaram pelas mãos de Giusti que sempre acompanhou os times da dupla Grenal em campeonatos importantes. Apesar de o time do coração ser o Grêmio, foi com o Internacional que o profissional afirma ter feito grandes coberturas. Com o clube, visitou outros países como México e Japão, nos campeonatos Taça Libertadores da América e Mundial Interclubes. “As coberturas que mais tu fazes viagens são as esportivas.”


Em uma das coberturas esportivas, durante um jogo entre Grêmio e Curitiba, Giusti fez uma sequência de imagens de uma briga entre um médico da delegação gremista e o árbitro da partida. As imagens da confusão renderam-lhe o primeiro lugar no Prêmio ARI de Jornalismo, em 1999. Depois deste, vieram mais três, desta vez no segundo lugar, com imagens feitas para as editorias de esporte e polícia. Outra premiação que o fotógrafo lembra com muito carinho, pois, foi o primeiro que conquistou, é o Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo. Giusti foi contemplado graças a uma imagem, feita em 1987, de um mendigo tomando água na sarjeta. Um dos últimos recebidos por ele foi o Prêmio Press, na categoria Reportagem Fotográfica, no ano passado.


Uma das situações mais curiosas da qual lembra também está ligada ao esporte. Após um jogo no estádio Beira-Rio, foi fazer a cobertura no portão oito, local que os torcedores utilizavam para protestar quando o time não ia bem. Quando estava fotografando, levou um chute de um policial e um colega que trabalhava na Zero Hora fotografou o momento exato da agressão. No outro dia, a foto estampava as capas da ZH com a manchete “Polícia agride imprensa”. “Os policias não gostam muito dos colegas da imprensa.”


Em 2005, fez um curso que ensinava como os jornalistas deviam proceder em coberturas de guerra. As aulas foram ministradas na sede do Exército Argentino, em Buenos Aires, durante uma semana. Com os militares argentinos, Giusti aprendeu táticas de como proceder em áreas de confronto.


Apesar das coberturas perigosas e dos imprevistos da profissão, ele se sente uma pessoa realizada, mas, não satisfeita. “Quando a gente se sente satisfeito, já pode pendurar as chuteiras. Eu estou sempre querendo fazer uma nova cobertura.”


Curtir a família
Atualmente, Giusti dedica seus dias de folga à filha Giovanna, de um ano. Em sua sala, no jornal Correio do Povo, nota-se que o fotógrafo aderiu a mais uma cobertura fotográfica: a dos momentos com a filha. Fotos bem coloridas, com um pai sorridente e sua “paixão” no colo estampam as portas do armário onde são guardadas as máquinas fotográficas. “Agora ela está começando a falar papai. É a coisa mais maravilhosa que existe”, afirma o profissional que se considera um pai-avô, devido aos 47 anos.


Gosta de ir ao cinema, viajar para a cidade de Canela ou para o litoral, mas, atualmente tem preferido os momentos de lazer ao lado da filha, do enteado Iuri e da esposa, a assistente social Cristine, sua companheira há 12 anos. “Tenho uma churrasqueira em casa e adoro ficar assando um ‘churrasquinho’ no fim de semana para a família.”


Motoqueiro assumido, Giusti possui uma motocicleta estilo Harley-Davidson. Antes, as viagens à praia com a esposa a bordo da motocicleta eram constantes, mas, a chegada do bebê na família diminuiu os passeios. No carro ou em casa, o fotógrafo gosta de ouvir um bom rock’n roll do estilo de Bob Dylan, Rolling Stones, Led Zeppelin e The Purple. ”Confesso que agora meu carro possui até CD de músicas infantis para acalmar a Giovanna.”


Motivado pela sua profissão e pela “vida maravilhosa”, repleta de saúde, que leva ao lado da família, o fotógrafo só pensa em ser feliz. Se considera um homem cheio de esperança, que gosta de muita alegria e está sempre com pensamentos positivos. Ele acredita que tudo pode ser feito de uma maneira melhor, basta que haja boa vontade e diálogo.

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