sexta-feira, 3 de julho de 2009

O designer Hélio

Hélio Nardi

Muitas pessoas podem achar a curiosidade um defeito. Mas, para Hélio Antônio Nardi Filho ela é, com certeza, uma qualidade. Foi graças a ela que o designer sempre desejou saber a origem de tudo que lhe rodeava. Os funcionários da Companhia Carris Porto-Alegrense, por exemplo, conheciam-no de longe, pois, com apenas oito anos, Hélio não saía do local onde os bondes de Porto Alegre eram consertados, uma das grandes lembranças que tem da sua infância na Capital, onde nasceu em 23 de novembro de 1950.


Também lembra com carinho de quando morava no bairro Tristeza e podia desfrutar das brincadeiras no rio Guaíba com os primos. A câmara velha de um pneu de caminhão se transformava em uma grande boia que levava os amigos para um local onde a água, na época cristalina, alcançava o pescoço.


Hélio é formado apenas pelo Ensino Médio do Colégio Rosário. Mas, esse fato não fez com que ficasse circunscrito ao mundo dos adolescentes. Com apenas 15 anos já gostava de acompanhar o trabalho dos adultos durante as gravações na TV Gaúcha, a atual RBS TV. Uma característica em especial chamava-lhe a atenção: a arte dos estúdios de gravação. Ficava lisonjeado por poder presenciar a pintura das paredes dos estúdios, o desenho feito pelos diretores de arte e, além disso, ver tudo novamente pela televisão quando chegasse à sua casa.


A curiosidade e o talento sempre fizeram com que Hélio alcançasse seus objetivos. Curso de designer, desenho ou informática, por exemplo, ele nunca fez. Tudo o que ele sabe é creditado ao fato de querer sempre descobrir como as coisas são feitas.


Jovem aprendiz
Com uma “boa mão” para o desenho, tentou cursar Arquitetura, mas não conseguiu passar no vestibular. Como era fascinado pela propaganda e pelas artes gráficas, resolveu unir as duas paixões e começar a trabalhar mesmo sem uma graduação. Em 1964, recebeu o convite para desenhar os seus traços “bem definidos” nos cartazes do Palácio dos Enfeites, uma antiga loja de decorações para festas. Mas, as visitas constantes à TV Gaúcha lhe renderam um estágio na emissora. Sem pensar, aceitou o convite. “Era um bom estágio, a diferença é que o estagiário pagava tudo do próprio bolso. Trabalhávamos para adquirir experiência, salário não existia.”


Em 1969, surgia a TV Difusora. Após um ano de sua inauguração, Hélio foi levado por um amigo para estruturar todo o departamento de arte da nova emissora. O setor foi denominado como “Arte 10” e servia de local para serem criados os anúncios da TV e os desenhos para os estúdios de gravação. “Nós montamos os primeiros slides coloridos para televisão”, relembra.


Atualmente com 58 anos, bigode e cabelos grisalhos, Hélio se surpreende ao lembrar que, em 1972, fez parte de um grande marco da história: a TV Difusora fez a primeira transmissão a cores no Brasil. A Festa da Uva, realizada em Caxias do Sul, foi toda transmitida pelo então novo sistema. “Passei por grandes experiências e mudanças. Trabalhei em uma época que tínhamos que colar letra a letra para construir um anúncio de publicidade”, explica, ao recordar o modelo conhecido como letraset, letras autoadesivas de fácil aplicação.


Devido às grandes práticas que teve e ao fato de ter começado a trabalhar ainda muito jovem, ele é conhecido pelos amigos por “jurássico”. Ele mesmo conta que quando começa a falar em todos os locais por quais já passou e pessoas que conheceu, tem a sensação de estar com quase 100 anos.


Da TV para as agências
O designer afirma que o seu conhecimento da tipologia e o bom desempenho no manejo de um pincel fizeram com que os traços de seus anúncios ficassem inigualáveis. Outras qualidades que havia desenvolvido era a agilidade e a rapidez devido ao pouco tempo que tinha para criar os anúncios para televisão. Com estes atributos, em 1973, foi convidado para trabalhar na Mercur Publicidade. Na agência, desenvolvia anúncios voltados para o varejo.


Nos primeiros dias de trabalho da Mercur, Hélio foi enviado a São Paulo para fazer um treinamento com os profissionais paulistas, o que, para ele, foi um enorme aprendizado, pois que acredita que lá as pessoas têm um nível cultural mais avançado: “Lá as crianças aprendem a analisar as pinturas de Picasso desde bem pequenos”.


Ainda na Mercur, os anúncios começaram a ser desenvolvidos em dupla. Por este motivo, começou a atuar na companhia do escritor Barbosa Lessa e depois juntamente com João Alberto Soares, com quem trabalhou por quase 10 anos. “Éramos o Batman e Robin da propaganda. Meus maiores anúncios e prêmios foram conquistados com ele.”


Após dois anos na Mercur, foi convidado para trabalhar na Marca Propaganda, junto de sua dupla inseparável. Na agência, os dois aprenderam a lidar com as mais variadas áreas atendendo a clientes de diferentes segmentos. Um ano depois, João Alberto foi chamado para trabalhar na agência Ampla, que era uma espécie de “house agency”, isto é, atuava somente para uma empresa dentro da própria empresa, neste caso, o Supermercado Real. Como a dupla já possuía até pôsteres destacando que seus trabalhos angariavam prêmios, a Ampla contratou os dois.
O resultado deles era tão positivo que quando a agência Escala conquistou a conta publicitária da concessionária Gaúcha Car, pertencente ao grupo Kunzler, os diretores do próprio grupo exigiram que a conta fosse atendida por “Beto e Hélio”. Então, em 1977, migraram para Escala, pela qual receberam muitos prêmios e foram os primeiros profissionais gaúchos a serem indicados a participar do livro do Clube de Criação de São Paulo, que apresenta o melhor da publicidade desenvolvida a cada ano.


Novos rumos na carreira
Contente com o trabalho da Escala, mas, necessitando dar novos ares a sua carreira, o designer resolveu abrir seu próprio espaço para trabalhar. Em 1979, saiu da agência e abriu o “Grupo de Arte”, onde atuava como freelancer. Aos poucos, a venda de criação para as agências de propaganda começou a crescer e a empresa se destacava a cada dia no mercado gaúcho. Mas, logo aconteceu algo que Hélio não queria: iniciou-se uma competição com outras agências. Por isso, em 1987, resolveu encerrar as atividades da sua empresa.


Com experiência na área e com mais de 200 prêmios conquistados, Hélio estava pronto para entrar no mercado novamente. No mesmo ano, foi convidado pelo amigo Sérgio Gonzalez para fazer parte da equipe gaúcha da MPM Propaganda, que na época já se destacava como uma das maiores no país. Nesta agência, começou a criar campanhas para empresas nacionais, logo obteve destaque e passou a ser supervisor de criação. Aqui, a dupla “Beto e Hélio” já trabalhava separada.


Após cinco anos, a MPM foi vendida para o Grupo Lintas. Segundo o designer, sua saída da empresa foi motivada pela mudança de rumo dos objetivos da agência e dos trabalhos que já eram desempenhados.


Administrador do próprio dia
Há 16 anos, Hélio trabalha no estúdio HN Design, montado em sua casa, onde desenvolve projetos com design gráfico. Trabalhou na confecção de muitos álbuns culturais, entre eles o álbum “Solar dos Câmara”, “Uma aventura no Sul do Brasil”, “Mário - Álbum biográfico”, de Mário Quintana, "Missões Jesuíticas" e “O Rio Grande de Erico Verissimo”.


Para o futuro ele planeja lançar uma exposição chamada “35 anos de Hélio Nardi”, onde colocará todos os anúncios que desenvolveu desde o início de sua carreira. Um dos objetivos da mostra é apresentar aos jovens todas as ferramentas que eram utilizadas para desenvolver os desenhos . “De que adianta tu guardares só para ti. O importante é repassar o teu conhecimento para as pessoas que estão começando”, acredita.


Ao lado da esposa, a bibliotecária aposentada Helena Bergmann Nardi, Hélio enfrenta uma rotina bem diferente daquela agitada que levava anos atrás. Agora, administra seu horário: trabalha às vezes à noite, em alguns dias pela manhã, quando não quer não trabalha, quando está com sono dorme até mais tarde, quando não, levanta cedo. “É um privilégio fazer o meu horário, mas, cuido sempre o prazo dos clientes. Nunca atraso um dia.”


O casal está junto há 35 anos e possui dois filhos, Anamaria, 33, e Hélio, 31. Durante os finais de semana a família costuma se reunir na casa que o designer possui na cidade de Canela. Nos dias mais quentes, eles preferem mudar o roteiro e viajar para o litoral. Quando não está envolvido em algum trabalho costuma cozinhar. Gosta de sair de casa sem receita, ir ao supermercado e escolher ingredientes para preparar uma boa comida, mas, assegura, sua especialidade é risoto.
Para ele cada dia tem que ser vivido como se fosse o primeiro, o único e o último da vida. Hélio se considera uma pessoa que adora aproveitar os momentos ao lado dos amigos, da família e, também, de estar junto da natureza, seja ela praia ou serra. Sua trajetória trouxe-lhe “experiências inesquecíveis” e uma das ideias que ele leva sempre consigo é passar aos jovens tudo o que aprendeu. “O que sei eu ensino, o que não sei, aprendo. Estamos sempre aprendendo com a vida.”

Um comentário:

Nos Tempos do Vinil disse...

Carolzita. Parabéns, delícia de blog. Dica: a única coisa a tentares evitar é apreguiça, ne mfalta de tempo é mais nociva que essa. Excelente eu blog, de causar inveja (xô, bicho!). Destaque especial para a matéria do Helio Nardi. Trabalhei com ele na Escala, grande Helio! Hu! Hu!. Se voltares a falar com ele, pergunbta se lembra do Bubu. Beijão. Vai firme.